Sou daqueles, no que tange a espaços de discussão sobre a atividade produtiva na cultura, que embarca até em bonde errado, só para conhecer novos itinerários, tentando descobrir meios que potencializem o meu fazer em particular, bem como ampliem o meu papel social como agente cultural, de incidir em políticas públicas que coloquem a cultura na agenda estratégica do Brasil como fonte geradora de uma nova cultura de direitos e de um novo modelo de desenvolvimento econômico, social, humano e sustentável para o país.
Voltando a metáfora dos bondes, não foram poucos os itinerários que percorri, todos eles, confesso, foram e continuarão sendo importantes na formação dos meus conhecimentos e desenvolvimento do meu fazer pessoal e institucional, mas em nenhum deles, reconheci efetiva capacidade de provocar o impacto de uma reforma estrutural da atividade produtiva na cultura, fazendo com que ela tenha o papel destacado nas primeiras linhas deste texto.
Embora todos os itinerários que percorri, de certa maneira tenham boas intenções, na maioria dos bondes, os agentes e fazedores de cultura que embarcaram, já o faziam com a idéia de sentar na janela tornando este ato a disputa pela “melhor” maneira de ver, expressar e manifestar suas opiniões, e de garantir os seus interesses, no contexto das antigas e das novas paisagens culturais que surgiram e seguem surgindo, especialmente, nos períodos da anterior e atual gestão do Ministério da Cultura.
Foram estas disputas que não permitiram, até agora, maiores avanços na apropriação do fazer cultural dos novos tempos, do tempo da civilização da criatividade, no qual a construção das agendas e lutas, precisam conformar os interesses e desejos dos passageiros a cada estação, valorizando as diferenças sem, no entanto, permitir o sectarismo das distinções entres as personalidades famosas e anônimas, públicas e privadas, governamentais e não governamentais, com e sem finalidades lucrativas, populares e de elite, bem como sem a fragmentação e segmentação de agendas por linguagens e formas de expressão (cinema, teatro, artes plásticas, circo, dança, literatura, música e etc.), deterministas de quais devem pilotar o bonde, viajar de pé, sentada, no corredor ou na janela.
O Movimento RECULTURA no qual estou neste momento embarcado, posso isso posso afirmar: é o novo bonde da cultura brasileira. Nele está todo mundo embarcando sem a idéia de ocupar os melhores assentos ou de de disputar quem pilota e determina o itinerário como meio de assegurar apenas os seus interesses, disputar a hegemonia de opiniões, e a vanguarda, autoria e liderança dos processos.
Já na primeira estação - a Capital Federal -, o bonde RECULTURA passou lotado de passageiros, entre artistas, organizações, gestores públicos e privados do setor artístico e cultural, de diferentes estratos/status, conquistando o compromisso do Governo Federal de criar um Grupo Interministerial com participação da sociedade para estudar, propor e realizar reformas estruturais que fortaleçam a atividade produtiva na cultura.
De Brasília o bonde do RECULTURA seguiu viagem Brasil afora..., seu manifesto e propostas, já contam com assinaturas de agentes culturais de todas as regiões e estados brasileiros. E a viagem não pára...
No último dia 28 de agosto foram mais de 20 cidades em diferentes estados do Brasil, que se transformaram em estações para o embarque de novos sujeitos produtivos da cultura brasileira. No Rio de Janeiro o RECULTURA realizou sua mobilização na sede da FUNARTE/MinC, onde operadores artísticos de diferentes segmentos se juntaram e conseguiram mais duas importantes conquistas, o compromisso da secretária de estado de cultura Adriana Rattes e da secretária municipal de cultura do Rio de Janeiro Jandira Feghali, de criarem Grupos de Trabalho envolvendo diferentes órgãos das administrações públicas estadual e municipal e a sociedade para estudar, propor e realizar reformas no mesmos moldes do GT Interministerial.
O bacana do dia 28, foi ter a sensação de estar em uma daquelas excursões da época do colégio ao Jardim Zoológico da Quinta da Boa Vista, onde a preocupação não era sentar na janela e sim ver todos os passageiros - colegas de uma mesma turma que, fora pequenas divergências, queriam mesmo andar de um lado pro outro no bonde -, estimulando uns aos outros a entoar as palavras de ordem para fazer o maquinista do bondinho chegar logo às jaulas dos animais mais exóticos.
Pra mim e, acredito que para outros, este itinerário está bastante interessante e têm levado à paisagens onde discutir política pública de cultura, se faz sem preconceitos.
E tu?! Tá fazendo o quê parado na estação?! Embarca porque neste bonde cabem todos que querem novas paisagens, que tornem a viagem de fazer cultural cada vez mais agradável!!!
JUNIOR PERIM
produtor cultural, membro do colegiado nacional da
Rede Circo do Mundo Brasil e coordenador executivo do
CRESCER E VIVER
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